quarta-feira, abril 12, 2006

Kamada Ekadasi (jejum de grãos)

Sri Suta goswami disse:
-Ó sábios, deixe-me oferecer minhas humildes e respeitosas reverências ao Supremo Senhor Hari, Bhagavan Sri Krishna, o filho de Devaki e Vasudeva, por cuja misericordia posso descrever sobre o dia de jejum que remove todo tipo de pecado. Foi para o devotado Yudhisthira que o Senhor Krishna glorificou os vinte e quatro Ekadasi primários, os quais destroem o pecado, e agora repetirei uma destas narrações para voces. Grandes sábios eruditos selecionaram estas vinte e quatro narrações dos dezoitos Puranas, pois elas são realmente sublimes. Maharaja Yudhisthira disse:
-Ó Senhor Krishna, ó Vasudeva, aceite por favor minhas humildes reverências. Descreva por favor o Ekadasi que ocorre durante o quarto crescente do mês Caitra(março/abril). Qual o seu nome e quais as suas glórias?
Senhor Sri Krishna respondeu:
-Ó Yudhisthira, por favor ouça-Me com atenção enquanto Eu descrevo a antiga história deste sagrado Ekadasi, uma história que Vasistha muni narrou certa vez ao rei Dilipa, o bizavô do Senhor Ramachandra. O rei Dilipa perguntou ao grande sábio Vasistha:
-Ó brahmana sábio, desejo ouvir sobre o Ekadasi que durante o quarto crescente do mês Caitra. Por favor descreva isto para mim. Vasista muni respondeu:
-Ó rei, sua pergunta é gloriosa. Narrarei com alegria aquilo que você deseja saber. O Ekadasi que ocorre durante o quarto crescente do mês Caitra chama-se Kamada Ekadasi. Ele consome todos os pecados, assim como o fogo florestal consome toda lenha sêca. Ele é muito purificante e concede o mérito mais elevado àquele que fielmente o observa. Ó rei, ouça agora a antiga história, a qual é tão meritória que pode remover todos os pecados simplesmente por ser ouvida.
Uma vez, muito tempo atrás, havia uma cidade estado chamada Ratnapura, a qual estava decorada com joías e ouro, e na qual serpentes de prêsas afiadas costumavam desfrutar de intoxicação. O rei Pundarika era o governante deste belíssimo reino, o qual reunia muitos Gandhavas, Kinaras e Apsaras entre seus habitantes.
Entre os Gandhavas estava Lalita e sua esposa Lalitá, os quais eram dançarinos especialmente graciosos. Esses dois estavam intensamente atraidos um pelo outro e a casa deles era repleta de grande riqueza e alimentos finos. Lalitá amava muito seu marido e por outro lado ele pensava nela constantemente dentro de seu coração.
Certa vez, na corte do rei Pundarika, muitos Gandharvas estavam dançando e Lalita cantava sozinho, sem sua esposa. Ele não pode evitar de pensar nela enquanto cantava e por distração perdeu o ritimo, desafinado. Realmente, Lalita cantou o final da canção de forma incorreta e uma das serpentes invejosas que auxiliavam na corte, reclamou ao rei de que Lalita estava absorto pensando em sua esposa, em vez de pensar no seu soberano. O rei ficou furioso após ouvir isto, seus olhos ficaram vermelhos de raiva. De repente ele gritou:
-Ó patife tolo, devido a você estar pensando luxuriosamente em uma mulher, em lugar de pensar reverentemente em seu rei enquanto executa seus deveres na corte, eu lanço a maldição que você se torne imediatamente um canibal!
Ó rei, Lalita se transformou de imediato em um terrivel canibal, um grande demônio comedor de gente, cuja aparência todos temiam; seus braços tinham treze quilometros de comprimento, sua boca era tão grande quanto uma caverna gigantesca, seus olhosb eram tão temerosos quanto o sol e a lua, suas narinas assemelhavam-se a enormes buracos na terra, seu pescoço era uma verdadeira montanha, seus quadris tinham seis quilometros de largura e seu corpo gigantesco extendia-se até cento e dois quilometros de altura. Desta maneira, o pobre Lalita, o amável cantor Gandharva, teve de sofrer a reação de sua ofensa ao rei Pundarika. Vendo seu marido sofrendo como um terrível canibal, Lalitá tornou-se imersa em mágoas. Ela pensou:
-Agora que meu marido está sofrendo os efeitos da maldição do rei, qual será meu destino? O que devo fazer? Onde devo ir? Desta maneira Lalitá sofria dia e noite. Em lugar de desfrutar da vida como uma esposa de gandharva, ela tinha de perambular por toda parte da densa floresta com seu marido monstruoso, o qual tinha caído completamente sob o manto da maldição do rei e estava inteiramente ocupado em terríveis atividades pecaminosas. Ele perambulava irregularmente por regiões proibidas, o belo semideus gandharva reduzido agora ao comportamento medonho de um comedor-de-gente. Totalmente pertubada em ver seu querido marido sofrendo tanto nesta terrível condição, Lalitá começou a chorar enquanto o seguia na louca jornada.
Porém, pela boa fortuna Lalitá um dia encontrou-se com o sábio Sringi. Ele estava sentado no pico da famosa colina Vindhyacala. Aproximando-se do asceta, ela ofereceu imediatamente suas respeitosas reverências. O sábio percebeu-a curvada perante ele e disse:
-Ó belíssima, quem é você? De quem você é filha e porque veio até aqui? por favor conte-me toda verdade. Lalitá respondeu:
-Ó grande sábio, sou filha do grande gandharva Viradhanva e meu nome é Lalitá. Ando pelas florestas e planícies com meu querido esposo, o qual o rei Pundarika amaldiçoou a se tornar um demônio comedor-de-gente. Ó brahmana, eu estou muito aflita em ver esta forma feroz e suas terríveis atividades pecaminosas. Ó mestre, por favor diga-me agora como poderei executar algum ato de expiação em benefício do meu marido. Ó melhor dos brahmanas, que ato piedoso poderei executar para livrá-lo desta forma demoníaca? O sábio respondeu:
-Ó dama celestial, há um Ekadasi chamado Kamada que ocorre no quarto crescente do mes Caitra. Ele está chegando em breve. Quem quer que jejue neste dia tem todos os seus desejos satisfeitos, se você observar este Ekadasi, jejuando de acordo com as regras e regulações e transferir o mérito obtido a seu marido, ele livrar-se-á da maldição imediatamente. Lalitá ficou contentíssima ao ouvir estas palavras do sábio.
Assim, Lalitá observou fielmente o jejum no Kamada Ekadasi, de acordo com as instruções do sábio Sringi e no Dvadasi, ela apresentou-se perante a deidade do Senhor Vasudeva e disse:
-Observei fielmente o jejum do Kamada Ekadasi. Pelo mérito alcançado por meio do meu jejum, deixe que meu marido se liberte da maldição que o transformou em um canibal demoníaco. Possa o mérito que assim ganhei libertá-lo da miséria.
Quando Lalitá acabou de falar, seu esposo, o qual estava próximo, libertou-se imediatamente da maldição do rei. Ele reobteve de imediato sua forma original como o gandharva Lalita, um esbelto cantor celestial adornado com muitos ornamentos formosos. Agora, com sua esposa Lalitá, ele poderia gozar ainda mais opulências do que antes. Tudo isto foi conseguido pelo poder e glória do Kamada Ekadasi. Por fim o casal de gandharvas embarcaram em um aeroplano celestial e subiram ao céu. O Senhor Sri Krishna continuou:
-Ó Yudhisthira, ó melhor dentre os reis, qualquer pessoa que ouça esta narração maravilhosa deve certamente observar o sagrado Kamada Ekadasi com o melhor da sua habilidade, tão grande é o mérito que ele concede ao seguidor fiel. Eu portanto descrevi as glórias dele para o benefício de toda humanidade. Não há Ekadasi melhor do que o Kamada Ekadasi. Ele pode erradicar até mesmo o pecado de se matar um brahmana e ele tambem nulifica as reações de maldições demoníacas, limpando a consciência. Em todos os três mundos, entre as entidades vivas móveis e imóveis, não há dia melhor.
Assim acaba a narração das glórias do Caitra-sukla Ekadasi, ou Kamada Ekadasi do Varaha Purana.